segunda-feira, 7 de junho de 2010

Deus de justiça, Deus de misericórdia

Tenho observado que grande parte das mensagens dirigidas aos crentes nas igrejas se parece mais com uma lista de deveres e obrigações. Somos advertidos de que precisamos orar mais, ler mais as Escrituras, evangelizar mais, nos dedicarmos mais à obra do Senhor (leia-se à igreja) etc. Às vezes, tenho a impressão que Deus está sempre me cobrando alguma coisa, algo que deixei de fazer, ou que Ele desaprova. O Deus que as igrejas nos apresentam é muito mais um Deus de justiça do que de misericórdia. Se eu "andar na linha" não tenho o que temer, mas se eu "pisar na bola" a mão de Deus irá pesar sobre mim. É como costumamos dizer: fez, levou!
Esta imagem de um Deus justo, que está pronto a nos disciplinar quando erramos é típica do Antigo Testamento. O Deus que vemos ali é um Deus que recompensa aqueles que lhe obedecem e castiga aqueles que são desobedientes e não buscam fazer a sua vontade. Encontramos várias passagens do AT confirmando esse princípio: "Obedeceremos à voz do Senhor para que nos suceda bem"(Jr 42.6), "o mau não ficará sem castigo, mas a geração dos justos é livre" (Pv 11.21), "Guarda, pois, os seus estatutos e os seus mandamentos que te ordeno, para que te vá bem" (Dt 4. 40), "Quem procura o bem alcança favor, mas ao que corre atrás do mal, este lhe sobrevirá" (Pv 11.27). Porém, o Novo Testamento nos revela um Deus que além de justo é também misericordioso. Um Deus que tomou sobre si o castigo que merecíamos e que está sempre pronto a nos receber de volta, com os braços estendidos. O Deus que Jesus nos mostra é um Deus perdoador, um Deus que nos acolhe, que nos recebe como somos e não nos retribui segundo nosso merecimento.
A melhor figura desse pai está na parábola do filho pródigo. Quando o filho volta para casa, depois de ter esbanjado a fortuna do pai em uma vida de pecado, em vez de passar-lhe um "sermão", o pai o recebe com uma festa! O texto dá a entender que o pai esperava ansiosamente pela volta do filho, pois avistou-o quando ainda estava longe, e "compadecido, correu, o abraçou e beijou".
Deus é justo, mas é também compassivo e misericordioso, tardio em irar-se e pronto a perdoar. Ele não fica à espreita, esperando que a gente caia em pecado para nos castigar. Ao contrário, Ele tem prazer em nos perdoar. "É o amor que sempre acolhe de volta à casa e deseja comemorar", nas palavras de Henri Nouwen; "O Deus que Jesus anuncia, e em nome de quem age, é o Deus da compaixão, o Deus que oferece a si mesmo como exemplo e modelo para todo o comportamento humano".

2 comentários:

  1. Que legal esse texto, tia!
    Meu pai sempre diz que teologia básica inclui três pontos: 1)existe um Deus, e nao sou eu (hehe); 2)ele é poderoso e 3)ele é bom.
    Se ele fosse só poderoso, realmente, sua justica provavelmente nos massacraria. Se fosse só bom, seria um Deus "gente boa", mas sem maiores efeitos. Ainda bem que os dois pontos se encontram - temos um Deus poderoso, e que se importa conosco! =)
    Beijao!

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  2. Muuuuuuuuito bom, minha amiga. Que bom que você voltou a escrever!
    Um abração, Xyko.

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