segunda-feira, 29 de março de 2010
Jacó e a justiça de Deus
A história de Jacó é a história de todos nós. Ela nos mostra que o fundamento da justiça divina é a graça. Embora Jacó não tivesse um coração voltado para Deus, Deus continuou a abençoá-lo, pois a bênção de Deus não está restrita ao que eu faço, se sou ou não submissa e obediente à sua lei, mas no fato de Deus derramar sua graça sobre mim, independente do fato de eu ser merecedora ou não.
O perigo de condicionarmos as bênçãos de Deus ao nosso comportamento, achando que se errarmos Deus vai nos punir, e se formos 'bonzinhos' Ele irá nos recompensar, é que essa atitude nos torna exigentes e intransigentes, conosco e com os outros. Era assim que agiam os fariseus, duramente criticados por Jesus por suas atitudes legalistas e hipócritas.
Não somos melhores que Jacó. Somos pecadores como ele, e dependendes como ele da graça e da misericórdia de Deus.
segunda-feira, 22 de março de 2010
Além da Luz e da Sombra
Esse texto diz tudo que eu queria dizer, mas não sabia bem como fazê-lo. Trata de algumas coisas sobre as quais tenho refletido ultimamente: tolerância, acolhimento, misericórdia...
A frase abaixo, retirada do texto, é uma dessas pérolas que a gente encontra por aí, meio que por acaso, mas que nos faz pensar por um bom tempo...
"A verdade sem amor é inquisição, e o amor sem verdade é permissividade."
ALÉM DA LUZ E DA SOMBRA
Tornar-se adulto é passar da idade dos contrários para a idade do complementar, para um outro modo de olhar as coisas. Se alguém diz algo contrário ao que penso e sou capaz de entender esse contrário como complementar, vou crescer em consciência e em compreensão. Se em vez de rejeitar ou negar alguns elementos de minha vida obscura, sou capaz de acolhê-los, tornar-me-ei mais inteiro.
A sombra é o que dá relevo à luz. Quando amamos alguém, um dos sinais de amor verdadeiro é que amamos os seus defeitos. É fácil amar os defeitos de nossos filhos. É difícil amar os defeitos dos adultos ou de nossos cônjuges. Esse amor de que falamos não significa complacência, não é dizer ao outro que me agrada o que ele tem de desagradável, pois isso seria mentira e hipocrisia. O amor de que falamos é dar ao outro o direito de ser diferente. É dar a ele o direito de experimentar sua liberdade. De experimentar em mim mesmo esta capacidade de amar o que é amável e de amar, também, o que não é amável. Dessa maneira passaremos de uma vida submissa para uma vida escolhida (p. 83).
[...] Nossa vida vale pelo olhar que é posto nela. Os olhares de juiz nos enchem de culpa. Há olhares benevolentes, misericordiosos e ao mesmo tempo, justos. Precisamos desses olhares porque todos nós temos necessidade de verdade e de sermos amados. Por vezes, os olhares que encontramos são muito amorosos, muito doces, mas falta a eles a exigência desta verdade. Outras vezes, os olhares que se colocam sobre nós são plenos de verdade e justiça, mas falta a eles a misericórdia e o amor.
[...] Há um olhar integral do qual temos necessidade a fim de nos vermos tal e qual somos. Porque a verdade sem amor é inquisição e o amor sem verdade é permissividade. Estas são reflexões gerais e cada um pode entrar em particularidades que lhes são próprias, sentindo se existe em sua vida alguém que pode suportar sua sombra sem julgá-la, apesar de não se mostrar complacente com ela. Creio que todos nós temos a necessidade, pelo menos uma vez em nossas vidas, de tal olhar pousado sobre nós. Nesse momento não teremos mais necessidade de mentir, de nos iludirmos, de usarmos máscaras. Podemos mostrar nossa verdadeira face, nosso verdadeiro corpo, com seus desejos e seus medos. Podemos mostrar nossa verdadeira inteligência com seus conhecimentos e suas ignorâncias. Mostrar-se com o coração verdadeiro, capaz de muita ternura e também capaz de dureza e indiferença. Mostrar-se como não-perfeito, mas aperfeiçoável. Sob este olhar nossa vida pode crescer. Porque o olhar que nos julga e nos aprisiona em uma imagem nos faz ficar parados, enquanto que o outro olhar nos impulsiona a dar um passo adiante desta imagem que os outros têm de nós (p. 100).
LELOUP, Jean-Yves. Além da Luz e da Sombra – sobre a arte do morrer, do viver e do ser. Rio de Janeiro: Vozes, 2001. (grifo meu)
segunda-feira, 8 de março de 2010
A propósito do Dia Internacional da Mulher
Lamentavelmente, esse padrão se repete também dentro das igrejas, onde as mulheres são impedidas de participar da liderança ou de exercer determinadas funções, usando como argumento alguns textos bíblicos fora de seu contexto cultural.
Jesus sempre tratou a mulher como sendo igual ao homem. Ele não deixou de falar com elas, apesar do preconceito da época impedir os homens de se dirigirem às mulheres em público. A Bíblia relata inúmeras situações em que Jesus é visto conversando com mulheres, deixando-se tocar por elas, ensinando-as, restaurando-lhes a dignidade. Alguns argumentam que, embora Jesus reconheça o valor da mulher, os discípulos eram todos homens, indicando que as mulheres estariam excluidas da liderança da igreja. Mas, é preciso levar em conta o contexto cultural da época antes de se chegar a esta conclusão. Numa sociedade em que a mulher não tinha direito à estudos e estava sujeita à tutela do homem (inicialmente do pai, depois de casada, do marido) Jesus não tinha como colocar uma mulher entre os Doze. Mas isso não significa que não havia mulheres entre seus seguidores. Jesus não só gastou tempo ensinando Maria como incentivou-a a permanecer aos seus pés, aprendendo dele, em vez de se preocupar com os afazeres domésticos ( que, de acordo com o padrão da época, caberiam a ela).
Ao olhar para esse episódio, fiquei pensando: Hoje a situação é diferente? Tenho lido alguns artigos em sites e blogs de conteúdo evangélico que refletem essa mesma realidade. Alguns defendem que as mulheres devem permanecer sob a tutela masculina "para sua proteção", e nos casos de violência doméstica, devem orar para que Deus toque no coração do marido. Dar parte na Delegacia da Mulher? Isso pode humilhar o homem!!!! O melhor a fazer é orar.
como estamos longe do modelo que Deus nos deixou...O padrão de Deus para homem e mulher é de parceria, de apoio, respeito e sub-missão mútua (ambos sob a mesma missão).
Para terminar, não podia faltar poesia no dia da mulher. Assim, deixo aqui uns versos de Cora Coralina, uma mulher do nosso tempo, que dedicou mais de 60 anos de sua vida cuidando dos afazeres de casa, marido e filhos. Mas, durante todo esse tempo, ela foi escrevendo seus versos e gaurdando-os, até ser descoberta por Carlos Drummond de Andrade, que conseguiu convencê-la a publicá-los.
A vida tem duas faces, positiva e negativa.
O passado foi duro, mas deixou o seu legado.
Saber viver é a grande sabedoria.
Que eu saiba dignificar minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
Dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes, aceitei contradições,
Lutas e pedras como lições de vida.
E delas me sirvo. Aprendi a viver.